SIM, É VERDADE, NÃO TENHO MOTIVO
Sim, é verdade, não tenho motivo
para esta tristeza, o desalnto
que logo de manhã em mim acorda
com o abrir da janela e a certeza
de que outro dia igual em vão começa.
O sol, a chuva, a névoa, sempre o tédio
dos passos repetidos tudo aplaina.
O trabalho repugna, a arte enjoa
mastigada sem fome. Que fastio
por tudo! Mas não sei porquê, se o amor,
a esperança, resistiram ao pó do tempo,
secretos e intactos ao desgaste.
Que anemia soluça no meu sangue?
Dou-lhe o nome de exílio. Há quantos anos!...
João José Cochofel
(1919-1982)
In "Quatro Andamentos"
Vértice
Coimbra-1966.
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