NO SILÊNCIO VAZIO
No silêncio vazio
que o medo impõe à vida
corre um estranho arrepio.
Vozes uivam de cio
na noite corrompida.
Porque choram as rosas?
Porque choram os cravos?
Noite, que mortes gozas
onde acabam chorossas
as esperanças dos bravos?
Quem viu rosas doridas?
Quem viu cravos chorando?
Nem com milhões de vidas
sarariam as feridas
que em nós estão sangrando.
De cada sombra espreita
o ódio frio e fero.
Quem à dor se sujeita
torna a vida mais estreita
que a suspeita de um zero.
não chores, esperança, o rumo
que o chão te subverteu.
Ergue-te, voz, a prumo.
Raiva, some-te em fumo.
Rasga, sonho, o teu véu.
Armindo Rodrigues
(1904-1993)
In "A Esperança Desesperada"
Coimbra 1948.
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