sábado, 27 de abril de 2013

 HOMEM DIANTE DO MAR


É como eu, sinto a angústia e o sangue.
Sublime na tristeza, segue em direcção ao mar,
para que o sol e o vento possam mitigar a sua agonia.
Sereno jaz o rosto, e o coração em ruínas
quer viver ainda para morrer mais.

É como eu, vejo com os olhos extraviados.
Procura a guarida da noite marinha,
arrasta também a consumida parábola de um voo
sobre o velho coração.

Segue vestido com a solidão nocturna.
As mãos suspensas sobre o frémito oceânico,
suplica ao tempo marinho que o liberte
do golpe sem tréguas a agitar
o seu velho coração repleto de sombras.

Sinto como se ele fosse o meu retrato
moldado pela cólera eterna
de um mar interior. Sublime na tristeza
tenta, em vão, não calcinar a areia
com o ácido amargo das suas lágrimas.

É como se fosse meu
o seu velho coração repleto de sombras.

Hérib Campos Cervera
(Paraguai)

(1905-1953)
Trad. de Jorge Henrique Bastos.

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