REMORSO EM FATO DE NOITE
Pela rua de névoa vai um homem cinzento;
Mas ninguém o suspeita. É um corpo vazio;
Vazio como pampa, como mar, como vento
Desertos tão amargos sob um céu implacável.
É o tempo passado, suas asas agora
Encontram entre a sombra uma pálida força;
É o remorso que, de noite, hesitando,
Em segredo aproxima sua sombra sem cuidado.
Não lhe apertes a mão. A hera altivamente
Subirá a cobrir os troncos do inverno.
Invisível na calma segue o homem cinzento.
Vós não sentis os mortos? Mas a terra está surda.
Luis Cernuda
(1902-1963)
In "Antologia Poética"
Trad. de José Bento.
Sem comentários:
Enviar um comentário