sábado, 15 de dezembro de 2012


REMORSO EM FATO DE NOITE

Pela rua de névoa vai um homem cinzento;
Mas ninguém o suspeita. É um corpo vazio;
Vazio como pampa, como  mar, como vento
Desertos tão amargos sob um céu implacável.

É o tempo passado, suas asas agora
Encontram entre a sombra  uma pálida força;
É o remorso que,  de noite, hesitando,
Em segredo aproxima sua sombra sem cuidado.

Não lhe apertes a  mão. A hera altivamente
Subirá a cobrir os troncos do inverno.
Invisível na calma segue o homem cinzento.
Vós não sentis os mortos? Mas a terra está surda.

Luis Cernuda
(1902-1963)
In "Antologia Poética"
Trad. de José Bento.

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