BOM DIA, AFONSO DUARTE
Nestas ruas exaustas de morte e silêncio,
entre rios mortos e áspera solidão,
passeio contigo, Afonso Duarte.
Sob teu rosto grave, teus nevados cabelos,
seara cansada de tantas espigas,
couves e rosas, Afonso Duarte.
Um galo canta longínquo, ou é tua voz
a seiva do chão, oculta e milenária,
a cantar ainda, Afonso Duarte?
Em teu jardim de angústia (ao longe o mar) colho
no ramo quebrado nossa ave imperecível
e a dor da Pátria, Afonso Duarte.
E vendo-te, raiz e flor, a meio do teu povo,
(eu mesmo cavo e sou quem poda a vinha)
só te digo: Bom dia, Afonso Duarte.
Papiniano Carlos
(1918-2012)
In "Sonhar a Terra Livre e Insubmissa"
Edição de Fevereiro de 1973.
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Há 4 horas
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