SOBRE O LUGAR DO CANTO
A mentira e seus rebentos
O ódio
espesso e a sua constelação sombria
A cólera terrível da terra
que não sustenta a raiz do espaço
e se deita na terra de boca para baixo.
A palavra que nasce sem destino.
O sangue que não semeia mais que sangue.
O pão usurpado da habitação do homem.
A caridade opaca do usurário sórdido.
A simonia da inteligência.
O medo e os seus profetas.
Um fruto triste separa-se e cede
mais débil que a sua própria podridão.
Esta é a hora, este é o tempo
- sou filho desta história-
este é o lugar que um dia
foi chão prodigioso de uma casa mais vasta.
José Ángel Valente
(1929-2000)
IN "Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea"
Trad. de José Bento.
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