segunda-feira, 10 de setembro de 2012


SOBRE O LUGAR DO CANTO


A mentira e seus rebentos
O ódio
espesso e a sua constelação sombria

A cólera terrível da terra
que não sustenta a raiz do espaço
e se deita na terra de boca para baixo.

A palavra que nasce sem destino.

O sangue que não semeia mais que sangue.

O pão usurpado da habitação do homem.

A caridade opaca do usurário sórdido.

A simonia da inteligência.

O medo e os seus profetas.

Um fruto triste separa-se e cede
mais débil que a sua própria podridão.

Esta é a hora, este é o tempo
- sou filho desta história-
este é o lugar que um dia
foi chão prodigioso de uma casa mais vasta.

José Ángel Valente
(1929-2000)
IN "Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea"
Trad. de José Bento.

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