sábado, 15 de setembro de 2012


ACRE E DURA CARNE


Pátria onde nasci Desespera
vê-la tão seca na matriz
Acre e dura carne (austera)
no coração do meu país

Flor de saibro O rosto mole
vem da névoa cega e fria
Rastros de carro do sol
carregando o corpo do dia

Ondas de pedra –a fúria nos arcos
da voz: Morda aguente e fique!
E os pinhais –cascos de barcos
que navegaram a pique

Mentira o Fado que se toca:
Na pedra mais pedra mais secreta
abre-se e rasga-se uma boca
onde um pássaro canta e dejecta

Lá a cabra o vento o poeta
naturais de alma e corpo ao léu
trazem nos ventres o demo
e à flor dos cornos o céu

Luís Veiga Leitão
(1912-1987)
In "Ciclo de Pedras"
Edição de Maio 1964.

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