O INIMIGO
Grandes olhos frios espiam esta calma
fictícia em que vives. Olhos de inimigo
que chove sobre ti a sua areia,
migalha-te o futuro, cobiça-te os joelhos,
oferece longas jornas de fome, salários
feitos de medo e asco.
Sobre os campos, as fábricas, o inimigo
sopra no teu querer uma paralisia.
Inventa sombras, disfarça a sua imagem;
a linha que o define, fugidia,
em vão a pensarás, em vão teu lápis
tentará aprisionar o seu contorno.
Mas se avanças um passo logo o vês
nesses olhos que tentam fascinar-te.
Egito Gonçalves
(1920-2001)
In "Sonhar a Terra Livre e Insubmissa"
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