CANTA UM GALO.
Canta um galo empoleirado
numa nuvem de algodão.
De olhos de charneca rasa
e voz de cravo encarnado,
o Sol vai pelos caminhos
e leva o chapéu ao lado.
Vai com modos de navalha
pelos caminhos do céu.
É-lhe uma fogueira o sangue
e leva ao lado o chapéu.
Numa cruz de sete ventos
onde a esperança se perde
está uma cigana verde
com sete rosas na mão.
Vem o Sol, dá-lhe um braço.
Caem-lhe as rosas no chão.
À sombra de uma oliveira
soa uma flauta de cana.
Caem-lhe no chão as rosas.
Rangem-lhe os folhos da saia.
No desmaio da cigana
a voz da flauta desmaia.
Armindo Rodrigues
(1904-1993)
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