domingo, 26 de fevereiro de 2012

Mário Dionísio


VIDA INTERIOR


1
Noutro tempo chorava
tristemente
com o peso do mundo nas costas dobradas

Ia
com os ombros caídos e os olhos no chão
abandonadamente
pelas estradas

Mas agora
cruamente
alguma coisa me põe os olhos secos
e me atira a cabeça
e o corpo todo
para a frente

2
Donde vem donde vem
esta mão invisível que me puxa
e nos junta tão forte?

Donde vem
este vento que se ergue e me põe deste lado
e nos põe deste lado
e me faz caminhar
e nos faz caminhar
teimosamente?

Donde vem este ardor?
Donde vem esta voz?

(felicidade crua do perig0
és tu quem fala alegremente
na tormenta)

Vem do fundo de mim
vem do fundo de nós

Mário Dionísio
(1916-1993)
In "Poesia Incompleta"

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