quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Gabriel Okara



ADHIAMBO

Eu ouço muitas vozes
como dizem que um louco ouve;
eu ouço as árvores falarem
como dizem que um curandeiro ouve.

Talvez eu seja um louco,
eu seja um curandeiro.

Talvez eu seja louco,
pois as vozes tentam-me,
incitam-me desde a lua da meia noite e do silêncio da minha secretária
a caminhar na crista das ondas, atravessando o mar.

Talvez eu seja um curandeiro
que ouve seivas falantes,
que vê através das árvores
mas que perdeu os seus poderes
de invocação.

Mas as vozes e as árvores
convocam agora um nome e uma figura
esboçada em silêncio, que na
face da lua caminha, passando
sobre continentes e mares.

E eu levantei a minha mão,
a minha mão trémula, agarrando
o meu coração como um lenço
e acenei e acenei – e acenei -
mas ela desviou o olhar.


Gabriel Okara
Nigéria (n.1921)
Trad. de José Alberto Oliveira
In "Rosa do Mundo 2001 Poemas Para o Futuro"

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