domingo, 1 de janeiro de 2012

Eugénio de Andrade


FECUNDOU-TE A VIDA NOS PINHAIS...


Fecundou-te a vida nos pinhais.
Fecundou-te de seiva e de calor.
Alargou-te o corpo como os areais
onde o mar se espraia sem contorno e cor.

Pôs-te sonho onde havia apenas
silêncio de rosas por abrir,
e um jeito nas mãos morenas
de quem sabe que o fruto há-de surgir.

Brotou água onde tudo era secura.
Paz onde morava a solidão.
E a certeza de que a sepultura
é uma cova onde não cabe a coração.

Eugénio de Andrade
(1923-2005)

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