domingo, 4 de dezembro de 2011

Federico García Lorca


CHAGAS DE AMOR


Esta luz, este fogo que devora.
Esta paisagem gris que me rodeia.
Esta mágoa por uma só ideia.
Esta angústia de céu, de mundo e hora.

Este pranto de sangue que decora
Lira sem pulso já, lúbrica teia.
Este peso do mar que me golpeia.
Este lacrau que no meu peito mora.

São grinalda de amor, cama de ferido,
Onde, sem sono, sonho-te a presença
Entre as ruínas do peito meu sumido;

e embora eu busque o cume de prudência
dá-me teu coração vale estendido
com cicuta e paixão de amarga ciência

Federico García Lorca
(1898-1936)
In "Antologia Poética"
Trd. de José Bento.

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