INTERROGAÇÃO E RESPOSTA
...E todas as tardes, e todas as manhãs
e todas as noites os homens morriam...
choravam as mães, as mulheres, as irmãs,
choravam os olhos que já os não viam...
E em todos os campos, e em todos os mares,
e em todas as ruas, e em todos os portos,
nas cadeiras vazias de todos os lares
perguntam os mortos porque foram mortos.
A que sol murcharam as promessas largas?
Que neblina esconde a terra prometida?
Que marcou a cinza tantas horas amargas,
no imenso quadrante do relógio da vida?
Palavras moldadas no barro do engano,
promessas de tudo trocadas em nada,
frases apagadas como apaga o oceano
os passos de um homem na areia molhada.
...E em todos os campos, e em todos os mares,
e em todas as ruas, e em todos os portos,
nas cadeiras vazias de todos os lares
perguntam os mortos porque foram mortos...
E nós que sabemos a verdade, e sentimos
para lá das falas das razões, dos motivos,
-provemos aos mortos que não os traímos,
Devolvendo aos vivos a terra dos vivos.
Sidónio Muralha
(1920-1982)
In "Companheira dos Homens"
(Conforme o original publicado em 1950)
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