APELO
Tu que nasceste e cresceste nesta época de não,
não dizeres o que gostas, não dizeres o que desgostas,
dá-nos teus versos todos surpresa e acusação
como os olhos de um homem apunhalado pelas costas!
Dá-nos teus versos descarnados e brutais,
escreve-os com suor no papel amarfanhado
- tira do teu silêncio todos os secretos vendavais
cercados de ameaças e de arame farpado!
Cada poema é um sulco a alargar o caminho,
o caminho dos homens com fome e sede de certezas
- e os teus versos, ao lado do pão e do vinho,
serão à noite servidos em todas as mesas.
Sidónio Muralha
(1920-1982)
In "Companheira dos Homens"
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