sábado, 5 de julho de 2014

EM MIM PRÓPRIO EU TROPEÇO.


Em mim próprio eu tropeço
como a água na água e, alta vaga,
a mim próprio me arrasto
sem sair do meu curso. E, como o vento
fere o ar, eu a mim próprio
me rejeito, e a poeira
sobe e escurece-me. Mas, tão leve
como a luz, acendo-me,
e o ar e a água reflectem
minha delida imagem
para ver-se - não ver-me.

Ángel Crespo
(1926-1995)
In "A Realidade Inteira"

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