domingo, 9 de agosto de 2015

MONÓLOGO DE ESTHER

Quando te perderes dentro
do deserto da tarde
e te der sede o azul
do mar tão distante,
sentirás que és olhado,
pelo meu olhar.

Eterno príncipe, Jacob,
terás sempre companhia
contigo peregrinando
através séculos, palavras.
Suportarás a morte
como o ramo ao pássaro.

Ai, inimigo caminho
das horas, das águas,
galope de altivos archeiros
contrários à estátua
de sal do que pensou
vir a ser mármore!
Se tu cais, os teus olhos
gelarão esperanças.

Povo triste, à lembrança
das cidades abarsadas.
Nenhum repouso te acolhe
de sombra doce, ou casa.
Apenas sonhos, no fundo.

Salvador Espriu
(1913-1985)
In "Rosa do Mundo  2001 Poemas Para o Futuro)
Trad. de João Cabral de Melo Neto"
 

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