segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Paganini.

Winston Churchil nasceu a 30 de Novembro de 1874.



"A política é quase tão excitante como a guerra e não menos perigosa. Na guerra a pessoa só pode ser morta uma vez, mas na política diversas vezes."


"Os homens tropeçam por vezes na verdade, mas a maior parte torna a levantar-se e continua depressa o seu caminho, como se nada tivesse acontecido"

"A desvantagem do capitalismo é a desigual distribuição das riquezas; a vantagem do socialismo é a igual distribuição das misérias."

"De uma maneira geral, os seres humanos podem ser divididos em três classes: aqueles que se matam com trabalho, os que se matam com preocupações e aqueles que se matam de tédio."

(Winston Churchill)

Fernando Pessoa morreu a 30 de Novembro de 1935.


Se às vezes digo que as flores sorriem.


Se às vezes digo que as flores sorriem
E se eu disser que os rios cantam,
Não é porque eu julgue que há sorrisos nas flores
E cantos no correr dos rios...
É porque assim faço mais sentir aos homens falsos
A existência verdadeiramente real das flores e dos rios.

Porque escrevo para eles me lerem sacrifico-me às vezes
À sua estupidez de sentidos...
Não concordo comigo mas absolvo-me,
Porque só sou essa cousa séria, um intérprete da Natureza,
Porque há homens que não percebem a sua linguagem,
Por ela não ser linguagem nenhuma.

(Fernando Pessoa/Alberto Caeiro)

domingo, 29 de novembro de 2009

Poema

SIGLA

S.A.R.L. S.A.R.L S.A.R.L.
a pança do patrão não lhe cabe na pele
a mulher do gerente não lhe cabe na cama.
S.A.R.L. S.A.R.L. S.A.R.L.
o cabedal estoira
e o capital derrama

O salário é sagrado
o direito é divino
mais o caso arrumado do poder que é bovino.

O papel é ao quilo
o cadáver ao metro
mais o isto e aquilo
com que se mata o preto.

O retrato é chapado
a moldura é antiga
para um homem armado
a catana é cantiga.

S.A.R.L. S.A.R.L. S.A.R.L.
o respeito algemado
o sorriso fiel
do senhor cão pastor que tem coleira aos bicos
S.A.R.L. S.A.R.L. S.A.R.L.
só salvamos a pele se formos cães de ricos:

A palhota de mágoa
a casota de medo
mais o pão e a água
que nos dão em segredo.

A gaveta arrumada
a miséria contida
mais a fome enfeitada
que há num dia de vida.

O cachorro quieto
o prazer solitário
do filho predilecto
do doutor numerário.

S.A.R.L. S.A.R.L. S.A.R.L.
a folha de serviços a folha de papel
o fabrico o penico o sono estuporado.
S.A.R.L. S.A.R.L. S.A.R.L.
o silêncio por escrito o silêncio ladrado:

A mensagem urgente
o envelope fechado
mais o rabo pendente
do animal escorraçado.

O contínuo presente
o contínuo passado
mais a fala deferente
do contínuo coitado:
Permite-me permite
Vossa Celebridade
o limite o limite
o limite de idade?

S.A.R.L. S.A.R.L. S.A.R.L.
Ai o sal deste mar ai o mel deste fel
o azeite o bagaço
o cagaço o aceite
deste lagar Tarzan traumatizado.
Ai a fase do leite
ai a crise do gado
neste curral sinónimo do homem
ANÓNIMO
RESPONSÁVEL
LIMITADO.

(Ary dos Santos, IN SOFRIMENTO IN SOFRIMENTO, 1969)

Poema.



Desejar

Desejar é a contínua impulsão de mudar...
- Desfazer e fazer - que jamais se termina...
Sonhar tudo, ser tudo e de novo aspirar
A primeira ilusão que se crê e imagina...

Carne ter outra carne a sentir e apalpar,
E ser beijo que mata e gozo que assassina...
E ao ser tudo, oh! tortura, outra vez desejar
A pureza d'outrora e os tempos de menina...

O desejo do tronco é ter verdura um dia,
E ao ter verdura vir de novo a ser desnudo,
E ser tronco outra vez e não ramaria...

Desejar oh! meu Deus, nada ser e ser tudo...
Não querer e querer... Estupenda agonia:
Mudo que quer ter voz e ao ter voz quer ser mudo!

Jorge de Lima, Obra Poética, Rio de Janeiro, Ed. Getúlio Costa, 1949.

sábado, 28 de novembro de 2009

Poema.


Ternura

Desvio dos teus ombros o lençol,
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do sol,
quando depois do sol não vem mais nada...

Olho a roupa no chão: que tempestade!
Há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
onde uma tempestade sobreveio...

Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo...

Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós!

David Mourão-Ferreira, in (Infinito Pessoal ou a Arte de Amar.)

SONETO.

É pau, e rei dos paus, não marmeleiro,
bem que duas gamboas lhe lobrigo;
dá leite, sem ser árvore de figo,
da glande o fruto tem, sem ser sobreiro:

Verga, e não quebra, como o zambujeiro;
Oco, qual sabugueiro tem o umbigo;
brando ás vezes, qual vime, está consigo;
outras vezes mais rijo que um pinheiro:

À roda da raiz produz carqueja:
todo o resto do tronco é calvo e nu;
nem cedro, nem pau-santo mais negreja!

Para carvalho ser falta-lhe um v;
adivinhem agora que pau seja,
e quem adivinhar meta-o no cu.

Bocage( Poesias Eróticas, Burlescas e satíricas)

Poema.


BALADA DA AMEIXA SECA


Vai à mercearia e compra ameixa seca.
P’ra o intestino a ameixa é levada da breca!

O mal do Ocidente – quem há que não o sinta? –
é não ter a tripa sempre limpa.

Com os seus altos valores, o Ocidente
dá por demais ao dente, dá por demais ao dente.

Põe-me os olhos nos povos que só comem arroz:
dão melhores guerrilheiros do que nós.

Um saquitel de arroz, uma biciclet’,
arma na bandoleira – e lá vai o viet.

“Noss’ povo”, ao contrário, come o que apanha à mão.
Até parece fome de muita geração!

E larga, já comido, o corpo em qualquer canto.
Sonha Terceiro Mundo e é Europa, entretanto.

Encostado ao sobreiro ou ao ficheiro,
“Noss’ povo” já nada tem de marinheiro.

Sua tripa, represa, é trabalhosa.
Sua prosápia já só é má prosa.

Portugal-do-casqueiro à Europa-das-latas
manda cortiça, vinho, diplomatas.

Espera contrapartidas: sol-e-vistas
é cartaz que atrai muitos turistas.

Mas com a ameixa seca – coisa pouca! –
é que pode acordar sem amargos de boca.

Vai à mercearia e compra ameixa seca.
P’ra o intestino a ameixa é levada da breca!


Alexandre O’Neill, As horas já de números vestidas (1981)

Adriana Calcanhoto "Formiga Bossa Nova" ( Poema de Alexandre O'Neill e Música de Alain Oulman)

Poema.


A MÃO NO ARADO



Feliz aquele que administra sabiamente
a tristeza e aprende a distribuí-la pelos dias
Podem passar os meses e os anos nunca lhe faltará

Oh! como é triste envelhecer à porta
entretecer nas mãos um coração tardio
Oh! como é triste arriscar em humanos regressos
o equilíbrio azul das extremas manhãs do verão
ao longo do mar transbordante de nós
no demorado adeus da nossa condição
É triste no jardim a solidão do sol
vê-lo desde o rumor e as casas da cidade
até uma vaga promessa de rio
e a pequenina vida que se concede às unhas
Mais triste é termos de nascer e morrer
e haver árvores ao fim da rua

É triste ir pela vida como quem
regressa e entrar humildemente por engano pela morte dentro
É triste no outono concluir
que era o verão a única estação
Passou o solidário vento e não o conhecemos
e não soubemos ir até ao fundo da verdura
como rios que sabem onde encontrar o mar
e com que pontes com que ruas com que gentes com que montes conviver
através de palavras de uma água para sempre dita
Mas o mais triste é recordar os gestos de amanhã
Triste é comprar castanhas depois da tourada
entre o fumo e o domingo na tarde de Novembro
e ter como futuro o asfalto e muita gente
e atrás a vida sem nenhuma infância
revendo tudo isto algum tempo depois
A tarde morre pelos dias fora
É muito triste andar por entre Deus ausente

Mas, ó poeta, administra a tristeza sabiamente

Ruy Belo.

Poema.


LISBON REVISITED (1923)

NÃO: Não quero nada.
Já disse que não quero nada.
Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.

Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!

Tirem-me daqui a metafísica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) —
Das ciências, das artes, da civilização moderna!

Que mal fiz eu aos deuses todos?

Se têm a verdade, guardem-na!

Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.
Com todo o direito a sê-lo, ouviram?

Não me macem, por amor de Deus!

Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?

Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja da companhia!

Ó céu azul — o mesmo da minha infância —
Eterna verdade vazia e perfeita!
Ó macio Tejo ancestral e mudo,
Pequena verdade onde o céu se reflecte!
Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.

Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo...
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!

Álvaro de Campos

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Chico Buarque " Geni e o Zeppelim "



VIVER SEMPRE TAMBÉM CANSA

Viver sempre também cansa.

O sol é sempre o mesmo e o céu azul
ora é azul, nitidamente azul
ora é cinzento, negro, quase verde...
Mas nunca tem a cor inesperada

O Mundo não se modifica.
As árvores dão flores,
folhas, frutos e pássaros
como máquinas verdes.

As paisagens também não se transformam.
Não cai neve vermelha
não há flores que voem,
a lua não tem olhos
e ninguém vai pintar olhos à lua.

Tudo é igual, mecânico e exacto

Ainda por cima os homens são os homens.
Soluçam, bebem riem e digerem sem imaginação.

E há bairros miseráveis sempre os mesmos
discursos de Mussolini,
guerras, orgulhos em transe,
automóveis de corrida...

E obrigam-me a viver até à morte!

Pois não era mais humano
morrer por um bocadinho,
de vez em quando
e recomeçar depois
achando tudo mais novo?

Ah! Se eu pudesse suicidar-me por seis meses
morrer em cima dum divã
com a cabeça sobre uma almofada
confiante e sereno por saber
que tu velavas, meu amor do norte.

Quando viessem perguntar por mim
havias de dizer com teu sorriso
onde arde um coração em melodia:
«Matou-se esta manhã.
Agora não o vou ressuscitar
por uma bagatela.»

E virias depois, suavemente,
velar por mim, subtil e cuidadosa,
pé ante pé, não fosses acordar
a morte ainda menina no meu colo...

José Gomes Ferreira

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Atahualpa Yupanqui "NADA MÁS" Homenagem a Che Guevara.

Penso que o nosso Eça previa o futuro.


"ORDINARIAMENTE todos os ministros são inteligentes, escrevem bem, discursam com cortesia e pura dicção, vão a faustosas inaugurações e são excelentes convivas. Porém são nulos a resolver crises. Não têm a austeridade, nem a concepção, nem o instinto político, nem a experiência que faz o ESTADISTA. É assim que hà muito tempo em Portugal são regidos os destinos políticos. Política de acaso, política de compadrio, política de expediente. País governado ao acaso, governado por vaidades e por interesses, por especulação e corrupção, por privilégio e influência de camarilha, será possível conservar a sua independência?"

(Eça de Queiroz, 1867 in "O distrito de Évora")

Eça de Queirós nasceu a 25 de Novembro de 1845.


"As Farpas" de Eça de Queiroz

“O país perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada, os carácteres corrompidos. A prática da vida tem por única direcção a conveniência. Não há princípio que não seja desmentido. Não há instituição que não seja escarnecida. Ninguém se respeita. Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Ninguém crê na honestidade dos homens públicos. Alguns agiotas felizes exploram. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente. O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo. A certeza deste rebaixamento invadiu todas as consciências. Diz-se por toda a parte: o país está perdido!”

(Isto foi escrito em 1871, por Eça de Queirós, no primeiro número d'As Farpas. Parece mais actual do que nunca!)

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Esta é uma canção triste... Víctor Jara com " Preguntitas Sobre Dios".

Uma das mais belas canções de sempre. "Los Hermanos" por Atahualpa Yupanqui.

Canción para Pablo Neruda de Atahualpa Yupanqui.

Carta a meus filhos sobre os fuzilamentos de Goya.


Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso.
É possível, porque tudo é possível, que ele seja
aquele que eu desejo para vós. Um simples mundo,
onde tudo tenha apenas a dificuldade que advém
de nada haver que não seja simples e natural.
Um mundo em que tudo seja permitido,
conforme o vosso gosto, o vosso anseio, o vosso prazer,
o vosso respeito pelos outros, o respeito dos outros por vós.
E é possível que não seja isto, nem sequer seja isto
o que vos interessa para viver. Tudo é possível,
ainda quando lutemos, como devemos lutar,
por quanto nos pareça a liberdade e a justiça,
ou mais que qualquer delas uma fiel
dedicação à honra de estar vivo.
Um dia sabereis que mais que a humanidade
não tem conta o número dos que pensaram assim,
Amaram o seu semelhante no que ele tinha de único,
de insólito, de livre, de diferente,
e foram sacrificados, torturados, espancados,
e entregues hipocritamente à secular justiça,
para que os liquidasse com suma piedade e sem efusão de sangue.
Por serem fiéis a um Deus, a um pensamento,
a uma pátria, uma esperança, ou muito apenas
à fome irrespondível que lhes roía as entranhas,
foram estripados, esfolados, queimados, gaseados,
e os seus corpos amontoados tão anonimamente quanto haviam vivido,
ou as suas cinzas dispersas para que delas não restasse memória.
Às vezes por serem de uma raça, outras
por serem de uma classe, expiaram todos
os erros que não tinham cometido ou não tinham consciência
de haver cometido. Mas também aconteceu
e acontece que não foram mortos.
Houve sempre infinitas maneiras de prevalecer,
aniquilando mansamente, delicadamente
por ínvios caminhos quais se diz que são ínvios os de Deus.
Estes fuzilamentos, este heroísmo, este horror,
foi uma coisa, entre mil, acontecida em Espanha
há mais de um século e que por violenta e injusta
ofendeu o coração de um pintor chamado Goya
que tinha um coração muito grande, cheio de fúria
e de amor. Mas isto nada é, meus filhos.
Apenas um episódio, um episódio breve,
nesta cadeia de que sois um elo (ou não sereis)
de ferro e de suor e sangue e algum sémen
o caminho do mundo que vos sonho.
Acreditai que nenhum mundo, que nada nem ninguém,
vale mais que uma vida ou a alegria de tê-la.
É isto o que mais importa – essa alegria.
Acreditai que a dignidade em que hão-de falar-vos tanto
não é senão essa alegria que vem
de estar-se vivo e sabendo que nenhuma vez
alguém está menos vivo ou sofre ou morre
para que um só de vós resista um pouco mais
à morte que é de todos e virá.
Que tudo isto sabereis serenamente,
sem culpas a ninguém, sem terror, sem ambição,
e sobretudo sem desapego ou indiferença,
ardentemente espero. Tanto sangue,
tanta dor, tanta angústia, um dia
- mesmo que o tédio de um mundo feliz vos persiga –
não hão-de ser em vão. Confesso que
muitas vezes, pensando no horror de tantos séculos
de opressão e crueldade, hesito por momentos
e uma amargura me submerge inconsolável.
Será ou não em vão? Mas, mesmo que o não sejam,
quem ressuscita esses milhões, quem restitui
não só a vida, mas tudo o que lhes foi tirado?
Nenhum Juízo Final, meus filhos, pode dar-lhes
aquele instante que não viveram, aquele objecto
que não fruíram, aquele gesto
de amor, que fariam “amanhã”.
E, por isso, o mesmo mundo que criemos
nos cumpre tê-lo com cuidado, como coisa
que não é só nossa, que nos é cedida
para a guardarmos respeitosamente
em memória do sangue que nos corre nas veias,
da nossa carne que foi outra, do amor que
outros não amaram porque lho roubaram.

Jorge de Sena – Metamorfoses, 1963

Les Bigotes ( AS BEATAS ) de Jacques Brel (Vejam a mímica da magistral actuação de Brel)

A 24 de Novembro de 1859 é publicada a obra "A Origem das Espécies " de Charles Darwin...Era uma pedrada no charco....

Estou a endoidar...Então não é que estas imagens me fazem lembrar a Drª Manuela Ferreira Leite. Endoidei de Todo!

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Herberto Helder nasceu a 23 de Novembro de 1930.


Fonte

Ela é a fonte. Eu posso saber que é
a grande fonte
em que todos pensaram. Quando no campo
se procurava o trevo, ou em silêncio
se esperava a noite,
ou se ouvia algures na paz da terra
o urdir do tempo
cada um pensava na fonte. Era um manar
secreto e pacífico.
Uma coisa milagrosa que acontecia
ocultamente.

Ninguém falava dela, porque
era imensa. Mas todos a sabiam
como a teta. Como o odre.
Algo sorria dentro de nós.

Minhas irmãs faziam-se mulheres
suavemente. Meu pai lia.
Sorria dentro de mim uma aceitação
do trevo, uma descoberta muito casta.
Era a fonte.

Eu amava-a dolorosa e tranquilamente.
A lua formava-se
com uma ponta subtil de ferocidade,
e a maçã tomava um princípio
de esplendor.

Hoje o sexo desenhou-se. O pensamento
perdeu-se e renasceu.
Hoje sei permanentemente que ela
é a fonte.

Herberto Helder

Meu Camarada e Amigo

Revejo tudo e redigo
meu camarada e amigo.
Meu irmão suando pão
sem casa mas com razão.
Revejo e redigo
meu camarada e amigo

As canções que trago prenhas
de ternura pelos outros
saem das minhas entranhas
como um rebanho de potros.
Tudo vai roendo a erva
daninha que me entrelaça:
canção não pode ser serva
homem não pode ser caça
e a poesia tem de ser
como um cavalo que passa.

É por dentro desta selva
desta raiva deste grito
desta toada que vem
dos pulmões do infinito
que em todos vejo ninguém
revejo tudo e redigo:
Meu camarada e amigo.

Sei bem as mós que moendo
pouco a pouco trituraram
os ossos que estão doendo
àqueles que não falaram.

Calculo até os moinhos
puxados a ódio e sal
que a par dos monstros marinhos
vão movendo Portugal
— mas um poeta só fala
por sofrimento total!

Por isso calo e sobejo
eu que só tenho o que fiz
dando tudo mas à toa:
Amigos no Alentejo
alguns que estão em Paris
muitos que são de Lisboa.
Aonde me não revejo
é que eu sofro o meu país.

Ary dos Santos, in 'Resumo'

Poema.


Não passam mais.


Em nome dos nossos braços
em nome das nossas mãos
em nome de quantos passos
deram os nossos irmãos.
Em nome das ferramentas
que nos magoaram os dedos
das torturas das tormentas
das sevícias dos degredos.
Em nome daquele nome
que herdámos dos nossos pais
em nome da sua fome
dizemos: não passam mais!

E em nome dos milénios
de prisão adicionada
em nome de tantos génios
com a voz amordaçada
em nome dos camponeses
com a terra confiscada
em nome dos Portugueses
com a carne estilhaçada
em nome daqueles nomes
escarrados nos tribunais
dizemos que há outros nomes
que não passam nunca mais!

Em nome do que nós temos
em nome do que nós fomos
revolução que fizemos
democracia que somos
em nome da unidade
linda flor da classe operária
em nome da liberdade
flor imensa e proletária
em nome desta vontade
de sermos todos iguais
vamos dizer a verdade
dizendo: não passam mais!

Em nome de quantos corpos
nossos filhos foram feitos.
Em nome de quantos mortos
vivem nos nossos direitos.
Em nome de quantos vivos
dão mais vida à nossa voz
não mais seremos cativos:
o trabalho somos nós.

Por isso tornos enxadas
canetas frezas dedais
são as nossas barricadas
que dizem: não passam mais!

E em nome das conquistas
vindas nos ventos de Abril
reforma agrária controlo
operário no meio fabril
empresas que são do estado
porque o seu dono é o povo
em nome de lado a lado
termos feito um país novo.

Em nome da nossa frente
e dos nossos ideais
diante de toda a gente
dizemos: não passam mais!

Em nome do que passámos
não deixaremos passar
o patrão que ultrapassámos
e que nos queria trespassar.
E por onde a gente passa
nós passamos a palavra:
Cada rua cada praça
é o chão que o povo lavra.
Passaremos adiante
com passo firme e seguro.
O passado é já bastante
vamos passar ao futuro.

De Ary dos Santos

sábado, 21 de novembro de 2009

A morte saiu à rua. ZECA AFONSO.

Poema.


Eu não sou eu nem sou o outro,
Sou qualquer coisa de intermédio:
Pilar da ponte de tédio
Que vai de mim para o Outro.


Mário de Sá-Carneiro

Poema.


Adiamento

Depois de amanhã, sim, só depois de amanhã...
Levarei amanhã a pensar em depois de amanhã,
E assim será possível; mas hoje não...
Não, hoje nada; hoje não posso.
A persistência confusa da minha subjectividade objectiva,
O sono da minha vida real, intercalado,
O cansaço antecipado e infinito,
Um cansaço de mundos para apanhar um eléctrico...
Esta espécie de alma...
Só depois de amanhã...
Hoje quero preparar-me,
Quero preparar-me para pensar amanhã no dia seguinte...
Ele é que é decisivo.
Tenho já o plano traçado; mas não, hoje não traço planos...
Amanhã é o dia dos planos.
Amanhã sentar-me-ei à secretária para conquistar o mundo;
Mas só conquistarei o mundo depois de amanhã...
Tenho vontade de chorar,
Tenho vontade de chorar muito de repente, de dentro...

Não, não queiram saber mais nada, é segredo, não digo.
Só depois de amanhã...
Quando era criança o circo de domingo divertia-me toda a semana.
Hoje só me diverte o circo de domingo de toda a semana da minha infância...
Depois de amanhã serei outro,
A minha vida triunfar-se-á,
Todas as minhas qualidades reais de inteligente, lido e prático
Serão convocadas por um edital...
Mas por um edital de amanhã...
Hoje quero dormir, redigirei amanhã...
Por hoje, qual é o espectáculo que me repetiria a infância?
Mesmo para eu comprar os bilhetes amanhã,
Que depois de amanhã é que está bem o espectáculo...
Antes, não...
Depois de amanhã terei a pose pública que amanhã estudarei. Depois de amanhã serei finalmente o que hoje não posso nunca ser.
Só depois de amanhã...
Tenho sono como o frio de um cão vadio.
Tenho muito sono.
Amanhã te direi as palavras, ou depois de amanhã...
Sim, talvez só depois de amanhã...

O porvir...
Sim, o porvir...

Álvaro de Campos

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

O dito do dia.


"O Povo completo será aquele que tiver reunido no seu máximo todas as qualidades e todos os defeitos. Coragem portugueses, só vos faltam as qualidades."

(Almada-Negreiros)

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Poema.


VIVAM APENAS.


Vivam, apenas
Sejam bons como o sol.
Livres como o vento.
Naturais como as fontes
Imitem as árvores dos caminhos
que dão flores e frutos
sem complicações.
Mas não queiram convencer os cardos
a transformar os espinhos
em rosas e canções.
E principalmente não pensem na Morte.
Não sofram por causa dos cadáveres
que só são belos
quando se desenham na terra em flores.
Vivam, apenas
A Morte é para os mortos!


José Gomes Ferreira

Pra não dizer que não falei das flores - Geraldo Vandré.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Poema.


AUSÊNCIA


Num deserto sem água
Numa noite sem lua
Num país sem nome
Ou numa terra nua

Por maior que seja o desespero
Nenhuma ausência é mais funda do que a tua.

Sophia de Mello Breyner Andresen

José Saramago nasceu a 16 de Novembro de 1922.

domingo, 15 de novembro de 2009

Poema.


CONVITE


Nesta fase em que só o amor me interessa
o amor de quem quer que seja
do que quer que seja
o amor de um pequeno objecto
o amor dos teus olhos
o amor da liberdade

o estar à janela amando o trajecto voado
das pombas na tarde calma

nesta fase em que o amor é a música de rádio
que atravessa os quintais
e a criança que corre para casa
com um pão debaixo do braço

nesta fase em que o amor é não ler os jornais

podes vir podes vir em qualquer caravela
ou numa nuvem ou a pé pelas ruas
- aqui está uma janela acolá voam as pombas -

podes vir e sentar-te a falar com as pálpebras
pôr a mão sob o rosto e encher-te de luz

porque o amor meu amor é este equilíbrio
esta serenidade de coração e árvores


Poema: Egito Gonçalves (1920-2001)

Poema


Amor é o olhar total, que nunca pode...


Amor é o olhar total, que nunca pode
ser cantado nos poemas ou na música,
porque é tão-só próprio e bastante,
em si mesmo absoluto táctil,
que me cega, como a chuva cai
na minha cara, de faces nuas,
oferecidas sempre apenas à água.

Fiama Hasse Pais Brandão

Jogo possessivo

O meu é teu. O teu é meu
e o nosso é nosso quando posso
dizer que um dente nos cresceu
roendo o mal até ao osso.

O teu é nosso. O nosso é teu.
O nosso é meu. O meu é nosso,
e tudo o mais que aconteceu
é uma amêndoa sem caroço.

Dizem que sou. Dizem que faço,
que tenho braços e pescoço
- que é da cabeça que desfaço,
que é dos poemas que eu não ouço?

O meu é teu. O teu é meu
e o nosso, nosso quando posso
olhar em frente para o céu
e sem o ver galgar o fosso.

Mas tu és tu e eu sou eu
não vejo o fundo ao nosso poço,
o meu é meu, dá-me o que é teu
depois veremos o que é nosso.

Ary dos Santos

sábado, 14 de novembro de 2009

Eu não existo sem você - Oswaldo Montenegro

Para ler.

Testículo - Texto pequeno.
Abismado - Pessoa que caiu de um abismo
Pressupor - Pôr preço em alguma coisa.
Biscoito - Fazer sexo duas vezes.
Padrão - Padre muito alto.
Democracia - Sistema de governo do inferno.
Barracão - Algo que proíbe a entrada de caninos.
Homossexual - Detergente para lavar as partes íntimas.
Ministério - Aparelho de som de dimensões muito reduzidas.
Detergente - Acto de prender seres humanos.
Eficiência - Estudo das propriedades da letra F.
Conversão - Conversa prolongada.
Halogéneo - Cumprimento a pessoas muito inteligentes.
Expedidor - Mendigo que mudou de classe social.
Luz solar - Sapato que emite luz por baixo.
Cleptomaníaco - Mania por Eric Clapton.
Contribuir - Ir para algum sítio com uma tribo de índios.
Aspirado - Carta de baralho completamente maluca.
Coitado - Pessoa vítima de coito.
Regime Militar - Dieta e exercícios feitos pelo Exército.
Caçador - Indivíduo que procura ter dor.
Assaltante - Um A que salta.
Determine - Prender a namorada de Mickey Mouse.
Coordenada - Que não tem cor.
Presidiário -Aquele que é preso diariamente.
Ratificar - Tornar-se um rato.
Violentamente - Viu com lentidão

Poema


Inventário

Um dente d'oiro a rir dos panfletos
Um marido afinal ignorante
Dois corvos mesmo muito pretos
Um polícia que diz que garante

A costureira muito desgraçada
Uma máquina infernal de fazer fumo
Um professor que não sabe quase nada
Um colossalmente bom aluno

Um revolver já desiludido
Uma criança doida de alegria
Um imenso tempo perdido
Um adepto da simetria

Um conde que cora ao ser condecorado
Um homem que ri de tristeza
Um amante perdido encontrado
Um gafanhoto chamado surpresa

O desertor cantando no coreto
Um malandrão que vem pé-ante-pé
Um senhor vestidíssimo de preto
Um organista que perde a fé

Um sujeito enganando os amorosos
Um cachimbo cantando a marselhesa
Dois detidos de fato perigosos
Um instantinho de beleza

Um octogenário divertido
Um menino coleccionando estampas
Um congressista que diz Eu não prossigo
Uma velha que morre a páginas tantas

Alexandre O'Neill

Poema


A CAMA QUENTE

Homenagem aos mineiros do Chile
que dormem, singelo,
pelo sistema de “a cama quente”

Na mina trabalha-se por turnos.
Quando se volta, nem se tiram os coturnos.

Bebido o café negro e trincado o casqueiro,
joga-se o corpo ao sono, mas, primeiro,

enxota-se o camarada da cama ainda quente,
que não há camas, no Chile, pra toda a gente.

Do calor que sobrou o nosso se acrescente
pra dar calor ao próximo que entra.

Vós, que dormis em camas, como reis,
tantas horas por dia, não sabeis

como é bom dormir ao calor de um irmão
que saiu ao nitrato ou ao carvão

e despertar ao abanão (é o contrato!)
de um que chega do carvão ou do nitrato!

É este sistema, minha gente,
que se chama no Chile “a cama quente”...

Alexandre O’Neill, “Poesias completas”

Gilbert Bécaud- Nathalie

Georges Brassens - Les Croquants

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Velhinha...mas muito linda.

Poema


Saudade

Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já...

Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida...

Saudade é sentir que existe o que não existe mais...

Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam...

Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.

E esse é o maior dos sofrimentos:
não ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e não viver.

O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido.
Pablo Neruda

Poema


SAUDADE

Saudade -Qué será?... yo no sé...

lo he buscado en unos diccionarios empolvados y antiguos

y en otros libros que no me han dado el significado de esta dulce palabra

de perfiles ambiguos

.Dicen que azules son las montañas como ella,

que en ella se oscurecen los amores lejanos,

y un noble y buen amigo mío (y de las estrellas)

la nombra en un temblor de trenzas y de manos.


Y hoy en Eca de Queiroz sin mirar la adivino,

su secreto se evade, su dulzura me obsede

como una mariposa de cuerpo extraño y fino

siempre lejos -tan lejos!- de mis tranquilas redes.

Saudade... Oiga, vecino, sabe el significadode esta palabra

blanca que como un pez se evade?

No... Y me tiembla en la boca su temblor delicado.

Saudade...

Pablo Neruda.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

La Lámpara Marina.


La Lámpara Marina

El Puerto Color de Cielo

Quando tú desembarcas en Lisboa,
Cielo Celeste y rosa rosa,
estuco blanco y oro,
Pétalas de ladrillo,
las casas,
las puertas,
los techos,
ventanas,
salpicadas del oro limonero,
del azul ultramar de los navíos.

Cuando tú desembarcas
no conoces,
no sabes que detrás de las ventanas
escuchan,
rondan
carceleros de luto,
retóricos, correctos,
arreando presos a las islas,
condenando al silencio,
pululando
como escuadras de sombras
bajo ventanas verdes,
entre montes azules,
la policía
bajo las otoñales cornucopias
buscando portugueses,
rascando el suelo,
destinando los hombres a la sombra.

II
La Cítara Olvidada

Oh Portugal hermoso
cesta de fruta y flores,
emerges
en la orilla plateada del océano,
en la espuma de Europa,
con la cítara de oro
que te dejó Camoens,
cantando con dulzura,
esparciendo en las bocas del Atlántico
tu tempestuoso olor de vinerías,
de azahares marinos,
tu luminosa luna entrecortada
por nubes y tormentas.

III
Los presidios

Pero,
portugués de la calle,
entre nosotros,
nadie nos escucha,
sabes
dónde
está Álvaro Cunhal?
Reconoces la ausencia
del valiente
Militão?
Muchacha portuguesa,
pasas como bailando
por las calles
rosadas de Lisboa,
pero,
sabes dónde cayó Bento Gonçalves,
el portugués más puro,
el honor de tu mar e de tu arena?
Sabes
que existe
una isla,
la isla de la Sal,
y Tarrafal en ella
vierte sombra?
Sí, lo sabes, muchacha,
muchacho, sí, lo sabes.
En silencio
la palabra
anda con lentitud pero recorre
no sólo el Portugal, sino la tierra.
Sí, sabemos,
en remotos países,
que hace treinta años
una lápida
espesa como tumba o como túnica
de clerical murciélago,
ahoga, Portugal, tu triste trino,
salpica tu dulzura
con gotas de martirio
y mantiene sus cúpulas de sombra.

IV
El Mar Y Los Jazmines

De tu mano pequeña en otra hora
salieron criaturas
desgranadas
en el asombro de la geografia.
Así volvió Camoens
a dejarte una rama de jazmines
que siguió floreciendo.
La inteligencia ardió como una viña
de transparentes uvas
en tu raza.

Guerra Junqueiro entre las olas
dejó caer su trueno
de libertad bravía
que transportó el océano en su canto,
y otros multiplicaron
tu esplendor de rosales y racimos
como si de tu territorio estrecho
salieran grandes manos
derramando semillas
para toda la tierra.

Sin embargo,
el tiempo te ha enterrado.
El polvo clerical
acumulado en Coimbra
cayó en tu rostro
de naranja oceánica
y cubrió el esplendor de tu cintura.

V
La Lámpara Marina

Portugal,
vuelve al mar, a tus navíos,
Portugal, vuelve al hombre, al marinero,
vuelve a la tierra tuya, a tu fragancia,
a tu razón libre en el viento,
de nuevo
a la luz matutina
del clavel y la espuma.
Muéstranos tu tesoro,
tus hombres, tus mujeres.
No escondas más tu rostro
de embarcación valiente
puesta en las avanzadas de Océano.
Portugal, navegante,
descubridor de islas,
inventor de pimientas,
descubre el nuevo hombre,
las islas asombradas,
descubre el archipélago en el tiempo.

La súbita
aparición
del pan
sobre la mesa,
la aurora,
tú, descúbrela,
descubridor de auroras.
Cómo es esto?
Cómo puedes negarte
al ciclo de la luz tú que mostraste
caminos a los ciegos?

Tú, dulce y férreo y viejo,
angosto y ancho padre
del horizonte, cómo
puedes cerrar la puerta
a los nuevos racimos
y al viento con estrellas del Oriente?

Proa de Europa, busca
en la corriente
las olas ancestrales,
la marítima barba
de Camoens.
Rompe
las telaranãs
que cubren tu fragrante arboladura,
y entonces
a nosotros los hijos de tus hijos
aquellos para quienes
descubriste la arena
hasta entonces oscura
de la geografía deslumbrante,
muéstranos que tú puedes
atravesar de nuevo
el nuevo mar oscuro
y descubrir al hombre que ha nacido
en las islas más grandes de la tierra.

Navega, Portugal, la hora
llégó, levanta
tu estatura de proa
y entre las islas y los hombres vuelve
a ser camino.


En esta edad agrega
tu luz, vuelve a ser lámpara:
aprenderás de nuevo a ser estrella.


Pablo Neruda
Poema extraído de Obras Completas, 3ª ed. aumentada, Buenos Aires, Editorial

Álvaro Cunhal nasceu a 10 de Novembro de 1913.

sábado, 7 de novembro de 2009

Poema.


Os Loucos

Há vários tipos de louco.

O hitleriano, que barafusta.
O solícito, que dirige o trânsito.
O maníaco fala-só.

O idiota que se baba,
explicado pelo psiquiatra gago.
O legatário de outros,
o que nos governa.

O depressivo que salva
o mundo. Aqueles que o destroem.

E há sempre um
(o mais intratável) que não desiste
e escreve versos.

Não gosto destes loucos.
(Torturados pela escuridão, pela morte?)
Gosto desta velha senhora
que ri, manso, pela rua, de felicidade.

António Osório, in 'A Ignorância da Morte'

Luis Represas e Pablo Milanés - Feiticeira.

Soeiro Pereira Gomes.


No Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira, é inaugurada hoje (7/11/2009) a A Exposição Comemorativa do Centenário do Nascimento de Soeiro Pereira Gomes. Intitulada " Na Esteira da Liberdade" aqui está uma iniciativa que se saúda e recomenda. 3ª a 6ªfeiras das 10 às 19 horas, sábados das 12 às 19 horas,domingos das 11 às 18 horas, encerra às 2ªfeiras e feriados. Se de todas as pessoa que lerem esta divulgação, uma só que seja, vá ver...dou por bem empregado o tempo.Soeiro merece.(Está até 14 de Março de 2010).

A "CDU" esteve mal...


O presidente da câmara de Loures (Carlos Teixeira) nomeou, lá para uns lugares difíceis, na dita câmara a filha e um cunhado... Um vereador da CDU (António Pombinho) veio dizer que estava mal... Não entendo! então a CDU não proclama, aos quatro ventos, que "As famílias têm de ser ajudadas". Fiquei aturdido e confuso...Até porque, aqui pela câmara de Ourém, isso nunca aconteceu. A CDU que abra os olhos...e tento na língua. Afinal estamos em Portugal Porra!

Pensamento/Reflexão
A Liberdade e a Justiça

A revolução do século XX separou arbitrariamente, para fins desmesurados de conquista, duas noções inseparáveis. A liberdade absoluta mete a justiça a ridículo. A justiça absoluta nega a liberdade. Para serem fecundas, as duas noções devem descobrir os seus limites uma dentro da outra. Nenhum homem considera livre a sua condição se ela não for ao mesmo tempo justa, nem justa se não for livre. Precisamente, não pode conceber-se a liberdade sem o poder de clarificar o justo e o injusto, de reivindicar todo o ser em nome de uma parcela de ser que se recusa a extinguir-se. Finalmente, tem de haver uma justiça, embora bem diferente, para se restaurar a liberdade, único valor imperecível da história. Os homens só morrem bem quando o fizeram pela liberdade: pois, nessa altura, não acreditavam que morressem por completo.

Albert Camus, in "O Mito de Sísifo"

Albert Camus nasceu a 7 de Novembro de 1913.


Albert Camus, um dos maiores escritores de sempre, nasceu em Mondovi (Argélia) a 7/11/1913 e morreu em Villeblevin (França) a 4/1/1960. É um dos meus escritores preferidos. Desde muito novo tenho lido,e relido, as suas obras sempre com admiração e sempre a aprender algo. Foi prémio Nobel de literatura em 1957. Camus não foi só escritor foi filósofo e um homem que sempre defendeu os seus ideais e que sempre lutou por um mundo mais justo e mais fraterno por um sociedade com menos desigualdades e mais justiça social, lutou na guerra ,nas guerras da vida, contra a guerra e por um mundo melhor. Vou continuar a ler livros como O Estrangeiro, A Peste, A Queda, O Exílio e o Reino,O Mito de Sísifo, O Homem Revoltado e outros. Ao Grande Albert Camus o meu até sempre e esta simples homenagem.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Tchaikovsky morreu ( aos 53 anos ) a 6 de Novembro de 1893.

Sophia de Mello Breyner nasceu a 6 de Novembro de 1919.


Pirata

Sou o único homem a bordo do meu barco.
Os outros são monstros que não falam,
Tigres e ursos que amarrei aos remos,
E o meu desprezo reina sobre o mar.

Gosto de uivar no vento com os mastros
E de me abrir na brisa com as velas,
E há momentos que são quase esquecimento
Numa doçura imensa de regresso.

A minha pátria é onde o vento passa,
A minha amada é onde os roseirais dão flor,
O meu desejo é o rastro que ficou das aves,
E nunca acordo deste sonho e nunca durmo.

Sophia de Mello Breyner

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Barack Obama foi eleito há um ano.


Barack Obama ( o nobel da paz deste ano) foi eleito há um ano. Mas o mundo não está melhor. No Iraque reinam a morte, a miséria e todo o género de atrocidades e injustiças. No Afeganistão as coisas estão piores que nunca. A eleição, vergonhosa, de Hamid Karsai com o carimbo "made in USA" e de Durão Barroso não vão melhorar as coisas... Guntanamo está de pedra e cal, as Honduras esquecidas, a América Latina é o que se sabe de África dói o coração falar.É um aniversário que não merece festejo.

Poema


Pelo sonho é que vamos

Pelo sonho é que vamos,
comovidos e mudos.

Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não haja frutos,
pelo sonho é que vamos.

Basta a fé no que temos.
Basta a esperança naquilo
que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
com a mesma alegria,
ao que desconhecemos
e ao que é do dia a dia.

Chegamos? Não chegamos?
- Partimos. Vamos. Somos.

(Sebastião da Gama)

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Poema.


IMPROVISO CORRIGIDO



Se minto? Quantas vezes!

Mas em palavras. Não

Nos meus olhos castanhos portugueses,

Nestas linhas atávicas da mão...

Se minto? ... Minto, pois!

Mas nas orais palavras que vos digo.

Não nas que entoo a sós comigo,

E em que enfim deixo de ser dois.

Não nas que entrego a músicas, miragens,

Alegorias, fábulas, mentiras,

Cadências, símbolos, imagens.

Ecos da minha e mil milhões de liras.

Se minto?...Minto! É regra de viver.

Mas não quando, poeta, me desnudo,

E a mim me visto de inocência, e a tudo.

Venha quem saiba ver!

Venha quem saiba ler!

(José Régio)



(Colheita da Tarde, 1971)

Jacques Brel "le Plat Pays"

domingo, 1 de novembro de 2009

Poema


METEMPSICOSE


Ardentes filhas do prazer, dizei-me!,
vossos sonhos quais são, depois da orgia?
Acaso nunca a imagem fugidia
do que foste em vós se agita e freme?

Noutra vida e outra esfera, aonde geme
outro vento, e se acende um outro dia,
que corpo tínheis? que matéria fria
vossa alma incendiou, com fogo estreme?

Vós fostes, nas florestas, bravas feras,
arrastando, leoas ou panteras,
de dentadas de amor um corpo exangue...

Mordei, pois, esta carne palpitante,
feras feitas de gaze flutuante...
Lobas! leoas! Sim, bebei meu sangue!

(Antero de Quental)

Os números do menino guloso.


Dá-me bolinhos
mas não só um.
Desde o almoço
faço jejum.
.
Dá-me bolinhos
mas não só dois.
Como um agora
outro depois.
.
Dá-me bolinhos
mas não só três,
que os vou papar
duma só vez.
.
Dá-me bolinhos
mas não só quatro,
para os provar
logo no quarto.
.
Dá-me bolinhos
mas não só cinco.
Com tanta fome
eu bem os trinco.
.
Dá-me bolinhos
mas não só seis,
todos maiores
que bolos reis.
(Luísa Ducla Soares)

Poema


Cinco Palavras Cinco Pedras

"Antigamente escrevia poemas compridos
Hoje tenho quatro palavras para fazer um poema
São elas: desalento prostração desolação desânimo
E ainda me esquecia de uma: desistência
Ocorreu-me antes do fecho do poema
e em parte resume o que penso da vida
passado o dia oito em cada mês
Destas cinco palavras me rodeio
e delas vem a música precisa
para continuar. Recapitulo:
desistência desalento prostração desolação desânimo
Antigamente quando os deuses eram grandes
eu sempre dispunha de muitos versos
Hoje só tenho cinco palavras cinco pedrinhas"

Ruy Belo, in Homem de palavra(s), 1970

O Meu sentimento é cinza
Da minha imaginação,
E eu deixo cair a cinza
No cinzeiro da Razão.

Fernando Pessoa (1888-1935)
(Quadras)

Savatore Adamo nasceu a 1 de Novembro de 1943. Quando eu tinha 15 anos adorava esta canção. Nunca tinha visto neve. Aqui fica para lembrar ....


Frases. E eu subscrevo...


"Só há um país no mundo inteiro que tem um José Saramago e é o meu país. E o dele. Graças a Deus.

(Mário Crespo)