sábado, 1 de agosto de 2015

 PAÍS DE AZULEJOS PARTIDOS


País de azulejos partidos
de erva trepando entre paredes em ruína
País entregue à sua sina
sem olhos e sem ouvidos

País voraz ruminando o almoço
rindo ou chorando incapaz de sorrir
País de corpo aberto a quem está a seguir
País do rastejar entre a pele e o osso

Pulinhos para trás e para a frente
de polegar na cava do colete
foguetes procissões uns copos de palhete
país da pequenez de si mesma contente

País indiferente aos que dão por ele a vida
País herói se não há perigo em sê-lo
País de velhos do Restelo
dado à mão-baixa perto e consentida

País que tudo quer e nada quer tudo suporta
País do faz como vires fazer
País do quero lá saber
do quem vier depois que feche a porta.



Mário Dionísio
(1916-1993)

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