PAÍS DE AZULEJOS PARTIDOS
País de azulejos partidos
de erva trepando entre paredes em ruína
País entregue à sua sina
sem olhos e sem ouvidos
País voraz ruminando o almoço
rindo ou chorando incapaz de sorrir
País de corpo aberto a quem está a seguir
País do rastejar entre a pele e o osso
Pulinhos para trás e para a frente
de polegar na cava do colete
foguetes procissões uns copos de palhete
país da pequenez de si mesma contente
País indiferente aos que dão por ele a vida
País herói se não há perigo em sê-lo
País de velhos do Restelo
dado à mão-baixa perto e consentida
País que tudo quer e nada quer tudo suporta
País do faz como vires fazer
País do quero lá saber
do quem vier depois que feche a porta.
Mário Dionísio
(1916-1993)
Eloy Sánchez Rosillo (Tarde de Junho)
Há 2 horas
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