sábado, 8 de agosto de 2015

MATEMOS A POESIA

Viva quem dorme ao luar
Como num fofo colchão;
Quem não ouve sereias, ao molhar
O corpo inteiro e lúcido no mar,
Com arrepios de aflição.

Viva quem tem seu afazer
E preocupações de dinheiro;
Quem na vida não sabe mais do que viver
E só julga verdade o verdadeiro.

Viva quem pode gritar, lutar, barafustar
(Mas não em poemas!) como gente natural, correcta:
Esses, sim, merecem cá ficar...
- Eu não, que sou Poeta.
 
António Manuel Couto Viana
(1923-2010)

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