sexta-feira, 7 de agosto de 2015


 DIREMOS A VERDADE, SEM DESCANSO


Diremos a verdade, sem descanso,
pela honra de servir, sob os pés de todos.
Detestamos os grandes ventres, as grandes palavras,
a indecente ostentação do ouro,
as cartas mal distribuídas pela sorte,
o denso fumo do incenso a quem é potente.
Agora é a vil raça dos senhores,
agacha-se no seu ódio como um cão,
ladra de longe, ao pé usa cacete,
segue, para além da lama, caminhos de morte.

Com a canção construamos no escuro
altas paredes de sonho, defesa deste turbilhão.
Pela noite chega o rumor de muitas fontes:
estamos fechando as portas do medo.
 
Salvador Espriu 
(1913-1985)

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