CASA DESERTA
Ah nada pior que a casa deserta,
sozinha, sozinha.
O fogão apagado e tudo sem interesse.
O mundo lá longe, para lá da floresta.
E o vento soprando
a chuva caindo
a casa deserta…
Ah nada pior que estes dias e dias,
de cachimbo aceso, com as mãos inertes,
com todas as estradas inteiramente barradas,
ouvindo a floresta.
Com tudo lá longe, na casa deserta,
o vento soprando
e a chuva caindo, na noite caindo…
Há uma cancela que range nos gonzos
um velho cão de guarda que ladra sem motivo -
parece que é gente que vem a entrar…
E é só vento soprando, soprando
e a chuva caindo…
Mudaram muita vez as folhas da floresta.
Os olhos do homem são olhos de doido.
Fogão apagado, aceso o cachimbo, o mundo lá longe.
E o vento soprando
a chuva caindo
a casa deserta…
Mário Dionísio
(1916-1993)
in "Poesia Incompleta"
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