SOLIDARIEDADE
Vamos, dêem as mãos.
Porquê esse ar de eterna desconfiança?
Esse medo, essa raiva?
Porquê essa imensa barreira
Entre o Eu e o Nós na natural conjugação do verbo ser?
Vamos, dêem as mãos.
Para quê esses bons-dias, boas-noites,
se é um grunhido apenas e não uma saudação?
Para quê esse sorriso
se é um simples contrair de pele e nada mais?
Vamos, dêem as mãos.
Já que a nossa amargura é a mesma amargura,
já que a miséria para nós tem as mesmas sete letras,
já que o sangrar dos nossos corpos é o vergão da mesma chicotada,
fiquemos juntos,
sejamos juntos.
Porquê esse ar de eterna desconfiança?
esse medo, essa raiva?
Vamos, dêem as mãos.
Mário Dionísio
(1916-1993)
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