quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

João Apolinário


VEM COMPANHEIRA...


Vem companheira há tanto desejada
nas fundas noites deste cativeiro
A vida é brasa e o mundo inteiro
é ave de asa calcinada

Vem que te espera em cada prisioneiro
a sequiosa força concentrada
Séculos de dor e sede recalcada
- um estigma falso de outro verdadeiro

Haverá festa quando tu chegares
amor músicas danças e cantares
o voo largo pleno descoberto

Por cada gota de água que trouxeres
os jovens te darão se tu vieres
o sangue do seu braço enfim liberto.

João Apolinário
(1924-1988)
in "Morse de Sangue"

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