quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Armando Silva Carvalho


O'NEILL TOMA LÁ CINCO.



Que fascínio produzem nos consumidores
estes homenzinhos barrocos, bacocos
e que não se calam?
Nos meios de massa não há gato
nem cão que não tenha quinhão.
Rimando, por aí abaixo, seria um descascar
nesta funambulesca mostra,
triturada depois pelo desgaste
dos tiques, do porte e do nariz,
pela sapiente máquina de fazer perfis,
mostra que, dividida pela população,
em termos estatísticos,
daria meio político a cada cidadão,
com alguns décimos a distribuir
por plantas e outros animais
de estimação.
É caso para crer nos banhas de cobra
e outras criaturas que,
de paleio ao ombro,
calcorreiam o pare, escute e olhe
de todos os sectores, visíveis, invisíveis,
pois para portuga e meio e não como o paleio
ainda que ensebado das europas, usas
e que tais
caligrafado depois pelas multinacionais
para pôr toda esta gente a emprenhar
pello canal auditivo
sem pílula, igreja, Jeová ou partido
que os possa deter nesta fornicação
tão colectiva, tão dada ao sentimento
que, mesmo não atinando no sentido,
molha o branco do olho
com a cantilena duma fauna no quadrado
que ergue sem despudor a crista
em busca de mercado.
Não será isto razão para tanta louvadeus,
louvatua ou louvaminha
à escrita literata,
pois, feita a anedota,
é dado ao poema que se segue
direito de resposta imediata
ao gozo do autor, quiçá nefelibata,
de andar para aqui com o novelo das rimas
e a dar razão às primas,
que os senhores doutores ao mostrarem os dentes
entre detergentes,
possuem aquela unção tão delicodoce,
calvamente precoce,
que nos põe todos camiliescamente
a cantar a vitória do antigamente.
E isto, primo, no balcão das nações
ditas civilizadas,
tão televisão, tão eurovisão
tão à nossa frente!

Armando Silva Carvalho,"Sentimento dum Acidental"

Sem comentários:

Enviar um comentário