NINGUÉM ESTÁ SOZINHO
Neste preciso instante
há um homem que sofre,
um homem torturado
somente por amar
a liberdade.
Ignoro
onde vive, que língua
fala, de que cor
tem a pele, como
se chama, mas
neste preciso instante
quando teus olhos lêem
meu pequeno poema
este homem grita, existe,
pode-se ouvir seu pranto
de animal acossado,
enquanto morde os lábios
para não denunciar
os amigos. Tu ouves?
Um homem sozinho
grita amarrado, existe
em algum sítio.
Eu disse só?
Não sentes, como eu,
toda a dor do seu corpo
repetida no teu?
O sangue não te corre
sob as pancadas cegas?
Ninguém está só. Hoje,
neste preciso instante,
também a ti e a mim
nos têm amarrados.
José Agustín Goytisolo, 1928-1999.
(Tradução de José Bento)
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