sábado, 16 de outubro de 2010

João Rui de Sousa


ÇA IRA

Isto vai,caro amigo.
Não como nós queremos,é certo
mas isto vai.

Por noites de insónia e alcatrão
por laranjas e lábios ressequidos
por desespero na voz e escuridão
isto vai,caro amigo.

Por mágoas acesas e relógios
pelo saber dos braços na alegria
pelo odor das plantas venenosas
isto vai,caro amigo.

Pelo cabo axial que liga a nossa esperança
pela luz dos cabelos,pelo sal
pela palavra remo,pela palavra ódio
isto vai,caro amigo.

Pela ternura e pela confiança
pela vontade e força,as nossas casas
pelo fervor com que inventamos (e depois
calamos)
isto vai,caro amigo.

Pelos carris do medo,pelas árvores
pela inocência e fome,pelos perigos
pelos sinais fraternos,pelas lágrimas
isto vai,caro amigo.

Pela rudeza do espaço
e em jardins falsíssimos

isto vai,caro amigo.

João Rui de Sousa

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