ESPANHA EM MARCHA
Nós somos quem nós somos.
Basta de História e de mentiras!
Para longe os mortos! Como Deus manda, enterrem os seus mortos.
Não vivemos do passado
nem damos corda às recordações.
Somos, turva e fresca, que atropela a sua origem.
Somos o ser que cresce.
Somos um rio em linha recta.
Somos o bater temível de um coração insatisfeito.
Somos bárbaros, simples.
Somos à morte o ibero
que nunca conseguiu mostrar-se puro, por inteiro e verdadeiro.
De quanto foi nos alimentamos,
transformando-nos crescemos
e assim somos quem somos, golpe a golpe morto a morto.
À rua, que já é hora
de passearmos em corpo
e mostrar que, por vivermos, anunciamos algo novo.
Não renego minha origem,
mas digo que seremos
muito mais que o sabido, os obreiros de um começo.
Espanhóis com futuro
e espanhóis que, por sê-lo,
embora encarnem o passado não o podem dar por bom.
Recordo os nossos erros
com má fúria e bom vento.
Ira e luz, pai de Espanha, volto a arrancar-te ao sonho.
Volto a dizer-te quem és.
Volto a pensar-te, suspenso.
Volto a lutar como importa e a começar por onde começo.
ao quero desculpar-te
como faria um leguleio.
Quisera ser poeta e escrever o teu primeiro verso.
Espanha minha, combate
que o meu âmago atormentas,
para salvar-me e salvar-te, com amor te soletro.
Gabriel Celaya
(1911-1991)
Tradução de José Bento
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