quarta-feira, 27 de outubro de 2010

José Agostinho Baptista


RECOMEÇO

Recomeço a partir de muito pouco,
nesta margem onde a areia, húmida e
sombria, erguida do sono,
se esvai por entre os meus dedos perdidos.
Recomeço a partir de uma única palavra,
de um ínfimo sinal que vi gravado nos
muros da tua cidade em ruínas.
Aí, nessa cal desaparecida,
vi, um dia, um pássaro imóvel, quase vivo,
com os olhos trespassados pelas agulhas do tempo,
inclinar-se e cair sobre as pedras mudas,
e esse pássaro eras tu,
ferida de morte,
afastando as lágrimas em vão.

José Agostinho Baptista (1948)
Anjos Caídos

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