BASTAVA QUE
Podia ter-me vendido
devia ter aceitado
a carta que me traziam
numa bandeja de prata
Carta cheia de promessas
o envelope timbrado
e com dois beijos de lacre
sobre o branco imaculado
Podia ter transigido
devia ter assinado
Podia ter-me rendido
à lei do estômago cheio
à lei do chapéu de plumas
à lei da besta sem freio
Devia ter-me traído
e entrar na roda do meio
Podia ter alinhado
a favor de Sancho Pança
negando que D. Quixote
fora sempre meu amigo
Podia quebrar a lança
devia adorar o umbigo
Bastava que eu não pensasse
o contrário do que digo.
José Correia Tavares
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