SE FOSSE POSSÍVEL ESCREVER SEM NENHUMA TENSÃO
Se fosse possível escrever sem nenhuma tensão
com a oval fluência de um vagaroso ócio
poderíamos libertar essa plácida lua
presa entre os rígidos flancos do ventre
Teríamos então a lucidez do sono
e as pálpebras ordenariam o fluir das linhas
que estariam de acordo com o silêncio dos montes
e com a voluptuosa lentidão do mar
No vagar de lúcidas surpresas
a palavra teria a vaga monotonia
de uma nuvem que nada mais dissesse
do que a clara indolência do dia
António Ramos Rosa
in "As Palavras" 2001.
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