MEMENTO
Nenhum dia sem sangue
Nenhum dia sem sonho
O primeiro e o último
Nenhum dia sem fundo
A noite no fundo do dia
Nenhuma sem manhã
Nenhuma sem vigília
Hoje e amanhã
A neve não cai para matar o mundo
A morte o vai matando
Mas a opressão o vai oprimindo
O mundo não cai para mudar a neve
A chuva o vento a cidade
Outrora ou agora
A não cai para amedrontar você
Da prisão e da armadilha
Da má notícia-insónia
E da manhã-cesto
Cheia de uvas cheia de metal
Cheia de sol cheia de trevas
A treva não cai para lembrar a queda
Sobretudo aquilo que bate e mata
O medo não cai para lembrar a miséria
De tudo aquilo que dói e arde
Cai para todo animal
Mostrar-nos o rastro
No medo na morte na neve
Se é diabo ou demónio
No vale ou na colina
Mundo consciência dia e sonho
Sangue na neve
Neve queda morte e pão
Sangue no pão
Guerra paz irmão e banquete
Sangue no vinho
Nenhuma noite mas que não lembre o dia
Nenhum sonho sem vigília
Nenhum dia sem terror
Nenhuma irmã sem irmão ensanguentado
Nenhuma que consiga não odiar até ao fim
Até o último bocado sangrento de pão
Até o último bocado sangrento de guerra
Até o último golpe de vingança
Até a primeira noite sem morte
Até a primeira manhã sem submissão
E o primeiro dia sem fundo
Marko Rístic (Sérvia)
(1902-1984)
In "Rosa do Mundo 2001 Poemas para o Futuro"
Trad. de Aleksandar Jovanovic
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