QUE HORA É ESTA?
É em vão que o sol doira
As asperezas da terra:
Secou na seara loura
Toda a esperança que ela encerra.
Baldadas todas as horas,
Todos os passos sem fim:
Murchou de vez o alecrim,
Secaram roxas amoras.
É quente a água das fontes,
Escalda o sangue nas veias:
São de fogo os grãos de areias
E as pragas negras dos montes.
Para quê lutar ainda
Numa luta sem sentido?
Sofre-se por se ter sofrido
Estas angústia que não finda.
Angústia que sobe à boca
Que amarga como a amargura
-Existência mal segura,
Fazenda que mal dá roupa.
Cansaram-nos assim de tudo,
Todos nos pesam de mais
-Os poetas são jograis
E o seu cantar quase mudo.
Amândio César
(1921-1987)
In "As Margens da Memória"
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