sexta-feira, 4 de março de 2011

Luís Veiga Leitão


ACRE E DURA CARNE



Pátria onde nasci Desespera
vê-la tão seca na matriz
Acre e dura carne (austera)
no coração do meu país

Flor de saibro O rosto mole
vem da névoa cega e fria
Rastros de carro do sol
carregando o corpo do dia

Ondas de pedra –a fúria nos arcos
da voz: Morda aguente e fique!
E os pinhais –cascos de barcos
que navegaram a pique

Mentira o Fado que se toca:
Na pedra mais pedra mais secreta
abre-se e rasga-se uma boca
onde um pássaro canta e dejecta

Lá a cabra o vento o poeta
naturais de alma e corpo ao léu
trazem nos ventres o demo
e à flor dos cornos o céu

Luís Veiga Leitão
(1912-1987)
In "Sonhar a Terra Livre e Insubmissa"

Sem comentários:

Enviar um comentário