ACRE E DURA CARNE
Pátria onde nasci Desespera
vê-la tão seca na matriz
Acre e dura carne (austera)
no coração do meu país
Flor de saibro O rosto mole
vem da névoa cega e fria
Rastros de carro do sol
carregando o corpo do dia
Ondas de pedra –a fúria nos arcos
da voz: Morda aguente e fique!
E os pinhais –cascos de barcos
que navegaram a pique
Mentira o Fado que se toca:
Na pedra mais pedra mais secreta
abre-se e rasga-se uma boca
onde um pássaro canta e dejecta
Lá a cabra o vento o poeta
naturais de alma e corpo ao léu
trazem nos ventres o demo
e à flor dos cornos o céu
Luís Veiga Leitão
(1912-1987)
In "Sonhar a Terra Livre e Insubmissa"
Sem comentários:
Enviar um comentário