O ELEFANTE E O BURRO
No tempo em que ainda falavam
Os animais como a gente,
É tradição que tiveram
Conferência em caso urgente.
O burro, que não sei como
Se introduziu no conselho,
Quis, fingindo-se estadista,
Também meter o bedelho.
E, num tom que diferia
Bem pouco do que hoje é zurro,
Foi revolvendo a questão:
Discreteou como um burro.
Depois de lhe ter ouvido
Alguns conceitos de arromba
O carrancudo elefante
Lhe disse, torcendo a tromba:
«Esse tempo que tens gasto
Inutilmente a chamar,
Insensato, não podias
Aproveitá-lo em pastar?
Vens afectar eloquência,
Animal servil e abjecto!
Um tolo nunca é mais tolo
Que quando quer ser discreto».
Bocage
(1765-1805)
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