![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgHz_GIrG6FukbLW8a86eziZr5kIIDf77jiyAOOtamCKzRg6MhXqMT65taW5wr6GouWZ1fV-8dQvvRB0gQp1VjHN0a_T9Uo-CUt5teOhO7L6VNQK6mrivr1bADgKvfTbnu2s1umlow5lCs/s320/Ruy+Belo+70%27s_3.jpg)
A FLOR DA SOLIDÃO
Vivemos convivemos resistimos
cruzámo-nos nas ruas sob as árvores
fizemos porventura algum ruído
traçámos pelo ar tímidos gestos
e no entanto por que palavras dizer
que nosso era um coração solitário silencioso
silencioso profundamente silencioso
e afinal o nosso olhar olhava
como os olhos que olham nas florestas
No centro da cidade tumultuosa
no ângulo visível das múltiplas arestas
a flor da solidão crescia dia a dia mais viçosa
Nós tínhamos um nome para isto
mas o tempo dos homens impiedoso
matou-nos quem morria até aqui
E neste coração ambicioso
sozinho como um homem morre cristo
Que nome dar agora ao vazio
que mana irresistível como um rio?
Ele nasce engrossa e vai desaguar
e entre tantos gestos é um mar
Vivemos convivemos resistimos
sem bem saber que em tudo um pouco nós morremos
Ruy Belo
Sem comentários:
Enviar um comentário