domingo, 26 de setembro de 2010

O NOVO CANCIONEIRO (1941)


...O NOVO CANCIONEIRO (1941), série de dez livros de poemas de jovens poetas, foi surpresa, revelação e abalo literário nos tempos terríveis da Segunda Guerra Mundial, quando parecia que o terror fascista ia tomar conta do mundo. A nova corrente realista surgia na sociedade, e no campo das letras, como uma uma lufada de ar fresco, de talento, de lirismo ligado à vida, apontando e acusando com coragem situações e injustiças, e, embora com dúvidas e contradições, confiando no destino dos povos e no futuro. A nova corrente poética justificava-se porque «o Dia do Juízo/não é no céu...é na Terra!».
Cada poeta fala por si e fala por todos. Assume o «eu» e explica um «nós» de fraternidade e militância. «Eu e tu/que não sei quem és, que não sabes quem sou:/eu e tu, Amigo! Milhões!»(Joaquim Namorado, Aviso à Navegação). Não se trata de uma posição contemplativa mas de uma atitude de intervenção e de luta. «Vamos fazer qualquer coisa de louco e heróico/como era a Tuna do Zé Jacinto/tocando a marcha Almadanim» (Manuel Fonseca, Planície). Ou em palavras escaldantes, «Já não há mordaças, nem ameaças, nem algemas/que possam perturbar a nossa caminhada,/em que os poetas são os próprios versos dos poemas/e onde cada poema é uma bandeira desfraldada. «(Sidónio Muralha, Passagem de Nível.).
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José Gomes Ferreira, poeta militante e militante poeta, tinha consciência de que, na voz do poeta, «embora tão rubra e tão sozinha,/arde o sonho de todos nós/como uma bandeira».
Em todo este vasto movimento poético, de convicção e combate, a liberdade era um objectivo central contra a ditadura e era uma conquista, patente na poesia e na acção. «Ser livre/» nos versos de Armindo Rodrigues, (...) é estar atado, amordaçado, em sangue, exausto,/e, mesmo assim,/nunca desesperar,/de, custe o que custar,/chegar ao fim» (Liberdade).
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Álvaro Cunhal.
"Álvaro Cunhal A Arte, O Artista e a Sociedade"

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