RELÂMPAGO
Rompe-se a escuridão quando o olhar
para uma face o mundo se ilumina
com uma claridade repentina
capaz de, só por si, fazer brilhar
a substância tão irregular
de tudo o que se acende na retina
e através da luz se dissemina
por entre imagens vãs, até formar
um fluido movimento, uma paisagem
a que estes olhos quase não reagem
salvo se nesse instante o rosto for
transfigurado pela fantasia.
E às vezes é só isso que anuncia
aquilo a que chamamos o amor.
(Fernando Pinto do Amaral, Às Cegas, 1997)
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