terça-feira, 12 de julho de 2011

Sidónio Muralha


SONETO DA INFÂNCIA BREVE


Muito cedo deixei de ser criança
e só guardei, à guisa de brinquedo,
encharcada de lua essa lembrança
de não ser mais criança muito cedo.

É esse cheiro de terra e a brisa mansa
ondulante de verde e de arvoredo
e o folguedo doirado dessa trança
que um dia me contou o seu segredo.

O menino que eu fui ainda corre
no meu país distante. O dia morre,
as sombras vão descendo, o sono vence-o.

E ele dorme, de mim desencontrado,
o menino que eu fui dorme embalado
na surdez em surdina do silêncio

Sidónio Muralha
(1920-1982)

Sem comentários:

Enviar um comentário