![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwu0TL69BLy9MKU3hnG0l3rdpGzPrBrEaBt-smqW6Qa_tMC1BIf3t_ThlOuYu2VrA1fyoQb69IbTL7shQYKyN5SnAm_UQs-Y7JHSVsPfgJpqaaoQu-737S8DK7J3qghQwkbifKQ3AiM55n/s320/images.jpg)
ARS
Os muros brancos da indiferença
desafiam os pintores
a pintar neles a esperança
amarelos sóis girando
roxos violetas azuis
gente animais árvores flores
como há e não há inventados
largas janelas abertas
para a vida e para o sonho
vermelhos entusiasmos
castanhos terra serenos
verdes e verdes terrenos
de horizontes rasgados
onde caibam os países
e os continentes e os mares ainda por descobrir
e o homem caiba inteiro
na verdadeira grandeza
em profundas perspectivas
tudo o que é grande e pequeno
dos outros o que a nós pertence
de nós o que a todos damos
a noite intensa povoada de sóis
que outros dias iluminam
a esperança neles pintada
a Paz o Pão o Amor.
E nas mansardas escuras
com os brancos muros em frente
da gelada indiferença
os artistas febris
esboçam em traços difusos
a própria morte do sonho.
Mas já na sombra da sombra
que sobre os brancos muros se estende
O coro das carpideiras
tece flores de retórica
para coroar-lhes as caveiras
e os conservadores misantropos
dos museus do que já foi
fazem o espólio das artes
com requintes de molduras.
Nos muros brancos da indiferença
gela o frio esquecimento…
Joaquim Namorado
(1914-1986)
(in Antologia de Poetas Alentejanos)
Sem comentários:
Enviar um comentário