terça-feira, 10 de maio de 2011

Juan Ramón Jiménez


REQUIEM

QUANDO TODOS OS SÉCULOS REGRESSAM,
ANOITECENDO, À SUA BELEZA,
SOBE AO ÂMBITO UNIVERSAL
A FUNDA UNIDADE TERRENA.

ENTÃO A NOSSA VIDA ALCANÇA
A ALTA RAZÃO DE SUA EXISTÊNCIA:
TODOS SOMOS REIS IGUAIS
NA TERRA, RAINHA COMPLETA.

VEMOS-LHE AS TÊMPORAS INFINDAS,
ESCUTAMOS-LHE A VOZ IMENSA,
SENTIMO-NOS ACUMULADOS
PELAS SUAS MÃOS VERDADEIRAS

SEU MAR TOTAL É NOSSO SANGUE,
A NOSSA CARNE É SUA PEDRA,
RESPIRAMOS O SEU AR UNO,
SEU FOGO ÚNICO INCENDEIA-NOS.

ELA ESTÁ COM TODOS NÓS,
TODOS NÓS ESTAMOS COM ELA;
ELA É BASTANTE PARA DAR-NOS
A TODOS A SUBSTÂNCIA ETERNA.

E TOCAMOS O ZÉNITE ÚLTIMO
COM A LUZ DE NOSSAS CABEÇAS
E DETEMO-NOS TODOS CERTOS
DE ESTAR NO QUE NUNCA SE DEIXA.

Juan Ramón Jiménez
(1881-1958)
In "Antologia Poética"
Trad. de José Bento.

Sem comentários:

Enviar um comentário