O OFÍCIO DO POETA
Contemplar as palavras
sobre o papel escritas,
medi-las, sopesar
seu corpo no conjunto
do poema, e depois,
tal como um artesão,
afastar-se a olhar
como a luz emerge
da textura subtil.
Assim é o velho ofício
do poeta, que começa
na ideia, no sopro
sobre o pó infinito
da memória, sobre
a experiência vivida,
a história, os anseios,
as paixões do homem.
A matéria do canto
ofereceu-no-la o povo
com a sua voz. Devolvamos
as palavras reunidas
ao autêntico dono.
José Agustín Goytisolo
(1928-1999)
In "Antologia da poesia espanhola contemporânea"
Dezembro de 1985
Trad. de José Bento.
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