segunda-feira, 5 de maio de 2014

VOZ

Era uma voz que doía
Mas ensinava.
Descobria
Mal o seu timbre se ouvia
No silêncio que escutava.

Paraísos, não havia.
Purgatórios, não mostrava.
Limbos, sim, é que dizia
Que os sentia,
Pesados de covardia
Lá na terra onde morava.

E morava neste mundo
Aquela voz.
Morava mesmo no fundo
Dum poço dentro de nós.

Miguel TORGA
(1907-1995)

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