sábado, 19 de setembro de 2015


 VIESTE TARDE...

Vieste tarde, meu amor! Começa
em mim caindo a neve devagar,
morre o sol, o Outono cai depressa
e o Inverno, finalmente, vai chegar,

E se hoje andamos juntos, na promessa
de caminharmos toda a vida a par,
daqui a pouco, o teu amor tem pressa
e o meu, daqui a pouco, há-de cansar.

Dentro em breve, por trás das velhas portas,
dando um ao outro só palavras mortas,
que rolam mudas pelas nossas vidas,

Ouviremos, nas noites desoladas,
-Tu, a canção das vozes desejadas,
eu, o chorar das vozes esquecidas.

Nunes Claro
(1878-1949)

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