NA NOITE
Terás envelhecido, como eu, tua existência
será igual à minha, mais ou menos: monótonos
dias que vão passando bem lentamente, dias
em que nada acontece e é tudo igual pra nós.
Às vezes, porventura ainda lembres aquela
luz distante de Agosto que partilhamos. Talvez
sobre meu nome tenha crescido o esquecimento
e se apagasse em ti minha imagem para sempre.
Pergunto-me por vezes se em verdade fui jovem
e estive ali contigo, se existiu aquele Verão.
O sonho e a memória não são coisas diferentes:
não sei se te recordo ou se te estou sonhando.
O tempo debotou as certezas que tive.
A evidência de ontem com a idade esfuma-se.
Estou só. É de noite. Penso que minha vida,
minha própria vida, acaso, não aconteceu nunca.
Eloy Sánchez Rosilo
(N: 1948)
Trad. De José Bento.
joan margarit / idade vermelha
Há 2 horas
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