NADA
A teu abandono oponho esta elevada
torre do meu divino pensamento.
Daí verá o coração sangrento
a cor do mar, por ele purpurada.
De minha sombra farei a madrugada,
minha lira guardarei do fútil vento,
dentro em mim buscarei o meu sustento...
Mas, ai! e se esta paz não fosse nada?
Nada, sim, nada, nada!... Ou que, já nu,
meu coração se afogasse e deste modo
fosse o mundo um castelo oco e novoento... –
Que a Primavera humana és tu, és tu,
a terra, o ar, a água, o fogo todo!
E eu sou apenas meu próprio pensamento!
Juan Ramón Jiménez
(1881-1958)
(Prémio Nobel em 1956)
In "Antologia Poética"
(Trad. de José Bento)
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