VOZ IMENSA
Somente abrem a paz um sino além, um pássaro...
Dir-se-ia que os dois conversam com o ocaso.
É de ouro e silêncio. A tarde é de cristais.
Embala as frescas árvores uma pureza errante.
E, para além de tudo, sonha-se um rio límpido
que, separando pérolas, foge rumo ao infinito.
Solidão! Solidão! Tudo é silente e claro.
Somente abrem a paz um sino além, um pássaro...
O amor vive longe. Sereno, indiferente,
o coração é livre. Nem triste, nem alegre.
Distraem-no brisas, cores, toques, perfumes…
Nada como num lago de sentimento imune.
Somente abrem a paz um sino além, um pássaro...
Dir-se-ia que o eterno está aqui, ao nosso lado.
Juan Ramón Jiménez
(1881-19589)
(Prémio Nobel de 1956)
In "Antologia Poética"
Trad. de José Bento.
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