ÚLTIMO NATAL
Menino Jesus, que nasces
Quando eu morro,
E trazes a paz
Que não levo,
O poema que te devo
Desde que te aninhei
No entendimento,
E nunca te paguei
A contento
Da devoção,
Mal entoado,
Aqui te fica mais uma vez
Aos pés,
Como um tição
Apagado,
Sem calor que os aqueça.
Com ele me desobrigo e desengano:
És divino, e eu sou humano,
Não há poesia em mim que te mereça.
Gaia, 24 de Dezembro de 1990
Miguel Torga
(12/08/1907-17/01/1995)
Foi o último poema de Natal (dos vários que escreveu).Escrito a 24 de Dezembro de 1990. Torga morreria a 17 de Janeiro de 1995.
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