GLÓRIA
Um dia se verá que o mundo não viveu um drama
Todas estas batalhas, todos estes crimes,
todas estas crianças que não chegam a desdobrar-se em
[carne viva
e de quem, contudo, fizeram carne viva logo morta,
todos estes poetas furados por balas
e todos os outros poetas abandonados pelos que
nem coragem tiveram de matar um homem,
toda esta mocidade enganada e roubada
e a outra que morreu sabendo que a roubavam,
todo este sangue expressamente coalhado
à face integra da terra,
tudo isto é o reverso glorioso do findar dos erros.
Um dia nos libertaremos da morte sem deixar de morrer.
(Jorge de Sena, 6 de Abril de 1942)
Jorge de Sena
(1919-1978)
in "Antologia Poética"
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