domingo, 26 de dezembro de 2010

Afonso Duarte


PSICANÁLISES


HOJE

Podem encher-me os punhos de grilhetas
Ou pregar numa cruz a vida minha;
Não é canto propício de poetas
O velho medo que guarda a vinha.

ONTEM

O antigo é a doença que eu mais detesto;
É viciar o que já foi virtude!
O tornar ao Passado é sempre um resto,
Ou pior, uma falta de saúde.

EXÍLIO

O branco é gesso, é cal para as ossadas,
E eu não lhe encontro asseio de alegria;
Caiei por isso a rosa - alexandria
Minhas quatro paredes exiladas.

Afonso Duarte
(1884-1958)

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